quarta-feira, 19 de setembro de 2007

João Gilberto em NY por ele mesmo

foto Celso de Carvalho 2007

Não digam que fui embora para sempre, que fugi
para a neve e o frio - nem casaco eu tinha quando vim.
O destino me trouxe para que, estando longe, eu me sinta mais perto da Bahia,
das barrancas onde o cachorro late para uma lua imensa.
Daqui, desse exílio voluntário onde faleço e ressuscito, tomo violão, cruzo mares e montanhas e chego aí em suas cordas, para ver cada rosto, tocar mãos amigas.
A de meu pai Caymmi, a de Jorge e Zelinha, a de Cravinho
e a de Coquejo e para abençoar os jovens.
Estou presente na música de todos eles, tanto na dos grandes quanto na dos pequenos.
Seja no teatro, seja no beco esconso.
Dizem que dividi o tempo e transformei o ritmo e cadência.
Pode ser que sim, mas foi no sertão do São Francisco que aprendi o canto e a poesia.
Tenho medo de voltar, de me afogar em tanto amor, de morrer sem avistar o povo e o casario. Me perdoem, tenho apenas o violão e um pássaro sofrê que me acompanha.
Um dia voltarei, não sou daqui.
Na hora exata irei descansar em terras da Bahia.
Ainda é cedo, porém, tenho uma canção a compor sobre a lua e a solidão.


quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Sonho na Caatinga, minha fase sertão...



Cheguei da barranca
No pó do terreiro
O jegue tristão
Nunca mais pinotou

Bera da janela
Eu olho pro longe
Jacarandá jacaré
É barriguda sem flor

Meu sonho é chuva
Alegria dos bichos
O verde sorrindo
Mas a rã não cantou

A cebola braba ainda vai brotar
Novilha vai sacudir o pé
E mesmo que tudo falte ou farte
Eu vivo sempre do que Deus me der