quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Pedras na boca

















Seguro na boca pequenas pedras
Doces que travam
Uma goela nua

Meu país,
Teu sangue é na varanda

Um braço solto
De punhos encerados
Despenca agora atrás da câmera


Brasil,

O teu olho é no seco


Vejo o amplo fora de mim
Meu sonho é quase impossível
Flashes, trials, trios, segundos tantos...


Brasil,

Cor de arder
Traz fogo no seu verbo


Falta acender as mentes
Na escuridão do tempo.



quarta-feira, 19 de setembro de 2007

João Gilberto em NY por ele mesmo

foto Celso de Carvalho 2007

Não digam que fui embora para sempre, que fugi
para a neve e o frio - nem casaco eu tinha quando vim.
O destino me trouxe para que, estando longe, eu me sinta mais perto da Bahia,
das barrancas onde o cachorro late para uma lua imensa.
Daqui, desse exílio voluntário onde faleço e ressuscito, tomo violão, cruzo mares e montanhas e chego aí em suas cordas, para ver cada rosto, tocar mãos amigas.
A de meu pai Caymmi, a de Jorge e Zelinha, a de Cravinho
e a de Coquejo e para abençoar os jovens.
Estou presente na música de todos eles, tanto na dos grandes quanto na dos pequenos.
Seja no teatro, seja no beco esconso.
Dizem que dividi o tempo e transformei o ritmo e cadência.
Pode ser que sim, mas foi no sertão do São Francisco que aprendi o canto e a poesia.
Tenho medo de voltar, de me afogar em tanto amor, de morrer sem avistar o povo e o casario. Me perdoem, tenho apenas o violão e um pássaro sofrê que me acompanha.
Um dia voltarei, não sou daqui.
Na hora exata irei descansar em terras da Bahia.
Ainda é cedo, porém, tenho uma canção a compor sobre a lua e a solidão.


quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Sonho na Caatinga, minha fase sertão...



Cheguei da barranca
No pó do terreiro
O jegue tristão
Nunca mais pinotou

Bera da janela
Eu olho pro longe
Jacarandá jacaré
É barriguda sem flor

Meu sonho é chuva
Alegria dos bichos
O verde sorrindo
Mas a rã não cantou

A cebola braba ainda vai brotar
Novilha vai sacudir o pé
E mesmo que tudo falte ou farte
Eu vivo sempre do que Deus me der

sábado, 18 de agosto de 2007

PORQUE NÃO TE COMPRO

Não te compro
Com a minha poesia
Porque ela não cabe
No seu bolso

domingo, 5 de agosto de 2007

TROVA DE UM HOMÔNIMO


foto Opera, Celso de Carvalho


De Pe. Celso de Carvalho, meu homônimo descoberto no Google:

Se toda ilusão frustrada
se tornasse assombração,
que casa mal assombrada
não seria o coração!

Vá que se louve a formiga,
e à cigarra se condene...
Mas, quem teceu essa intriga
foi a cigarra: La Fontaine!

domingo, 29 de julho de 2007

TORRE A TORRAR


(paulo autran)


ATOR


RE ATOR


TÓRREA TORRE




(fernando fulco e beth brandão)




quinta-feira, 5 de julho de 2007

IMAGENADA

Foto: Orlando Azevedo





Percebe-se o qualquer dessas
quaisquer tardes
em imagens invisíveis

Imaginação


Outros já viram a glória de Deus antes de mim,
e ainda por algumas vezes

verão


Imaginada
Imagem nada
da
da pensamento

cada universo

cada pensamento


pensamento universo
pensaverso unimento

terça-feira, 26 de junho de 2007

MAIS OU MENOS NADA

Depois que não respiro mais

É que vejo que pouco me conhecem.


Levo tantos sonhos para o sem fim!
Aprendo enfim que

O tempo é o assassino das ilusões.


Eterno é só o que está registrado.
E com backup.


Nem adiantava correr,
Pincelar minha vida grão de areia.


Mais ou menos nada.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

QUANTO AO TEMPO




As cãs me delatam
Mas a hora não sai
Se o minuto não passa


As marcas me saltam
Pois o dia não vai
Quando a lua não vem


O ar já me falta
Mas a gota não cai
Se a gente não pensa


A matemática é implacável.
O espírito vence tudo, porém.
E paira sobre o que quer.

O espírito vence tudo.

E paira sobre o que quer.

terça-feira, 5 de junho de 2007

VIDA LONGA, do jovem poeta juazeirense Marcos Élder Vieira de Carvalho


Vida longa à eternidade


Vida longa aos prazeres
Vida longa aos sonhos,
aos encontros,
às verdades...


Vida longa à novidade,
construindo novas cidades,
fundamentadas em dejetos de concretos...


Vida longa à alegria, alegorias, fantasias.
Vida longa ao fósforo no palito,
à borboleta flutuante,
no meu prato, os mariscos...


Vida longa aos mendigos, analfabetos, sem teto sem nada,
Vida longa à jornada
que ninguém sabe onde chega, ou de onde parte,


Vida longa à mocidade, com seus 20, 50, 130 anos.
Vida longa à longevidade
longe a vida que alonga suas vaidades,
perto do acaso,

Ocasionando situações de embaraço,
mas sempre esperançosa de um novo amanhã,
a cada ocaso...

quarta-feira, 30 de maio de 2007

RADICAL


Pra perder peso rapidamente:

Tomei decisão radical e fui no barbeiro.

Tosei vigorosamente a cabeleira.

domingo, 20 de maio de 2007

TUDO Y AMOR

Tudo que não for amor

É matéria

É assunto

E não é sopro



Tudo que não for amor

É blá blá blá

*crédito da imagem: Espírito Santo, por Aleijadinho.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

MINHA LUZ, para Luciana

Mistério de la neblina, óleo sobre tela, Hector Campos


Sua luz
Espantou neblina
No meu coração

Soprou, serenou, colou
E era noite no meu continente

Soprou, serenou, calou
Gerou uma fonte, um rio nascente

Alegra meu olho
Pessoa
Vivo no esconderijo de Deus
Com você

Claro sol além alvorada
O sorriso seu
Me abre os dias
Com calor vivo

Quando a calma
Detona todas as nuvens
O céu é seu rosto
Aberto no meu olho

quinta-feira, 10 de maio de 2007

EVOLUIR

Foto: Celso de Carvalho, a vingança dos pássaros
Evoluir

C'est vouloir

É vôo
É voar
Garantir
Avançar

terça-feira, 8 de maio de 2007

CAVERNÃO

HOLLYWOOD milude
HOLLYWOOD milude não

Ô penso que tava
veno almas vivas na luz


tava in túneis
voava
vivia com os ilustres


e nas estórias
passadas no cavernão


O filmaluz é cousas de mentirinha


Situação capturada
junto com gente
no cavernão


Hoje pode doer,
mas a gente
vai mergulhando
nas cores das estórias


do Cavernão

ALÔ BARATA

Será que Deus
E o inconsciente
Não são o mesmo
A mesma coisa?

Ói eles,
Num grande campo

Consciência transformada
Percepção expandida!

Mundo de fábulas
O sem fim...
E seus personagens interiores,

Como aquela barata
Que poderia estar
No sapato
Que eu vou calçar agora.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Pedido de Visita

Poesia
Visite me todo dia

Pousa e fuja, que seja
Em teu tanto vagar

Me traduz traz e luz
Abra a cortina de minh'alma
O véu cheio de dia a dia
Pra visualizar teus vôos

Meu olho é pequeno noTempo
E ampla em você navega
Minha letra

Poesia
Visite she todo dia

sábado, 5 de maio de 2007

Foto de Orlando Brito
"Minhas visitações ao passado
São apenas turismo pela memória."
Luís Antonio Cajazeira Ramos

O Humano Lírico e a Imagem Total

Texto de Fernando Catani, publicado em www.negativoonline.com
Escrevi este trecho de poema enquanto assistia a um filme sobre dança de salão: “Quando eu estiver para morrer... sei lá... toquem um tango. E depois me façam lembrar de todos eles, um por um. Como numa reviravolta de alegria e lágrimas que me fará sentir tudo o que vivi aqui nesta sala. Quando eu já tiver fechado os meus olhos, vão embora em silêncio depois de beijar os meus pés. Deixem-me lá naquele limbo do canto dos campos em que há bastante sombra e umidade. Esqueçam o caminho pelo qual me conduziram, e me deixem nu. Quando tudo sumir, tudo misturar, leiam mais alguns poemas, e deitem-se para dormir em paz”.
Tudo é poesia. Tudo que criamos para explicar o mundo é poesia. A poesia é transformar o que vemos do mundo através da imaginação, distorcendo as imagens que temos desse mundo. Isso é imaginar. Não poderíamos entender, ou melhor, conceber o mundo se não fosse nossa capacidade de diluí-lo em poesia. Até mesmo a idéia acerca da razão é poética. É em si uma poetização. Sabe-se lá o que seja razão, porque aqui neste texto não sabemos. Mas sabemos de sua idealização, de seu estado imagético que, por isso, é poesia. Poesia não é somente escrever poemas, embora estes sejam uma parte de todo o processo.
Criar explicações da vida é que é poesia. E todas essas explicações são metafóricas, e todas, poéticas. As teorias científicas são tão poéticas quanto aquele poema delirante perdido na estante empoeirada. Imaginem uma grande explosão que ainda se expande num espaço completamente indefinível. Ora, a ciência nada mais é do que a grande arte da nomeação poética. São antes de tudo grandes idéias que estão sempre em busca de explicar a si mesmas, para, ingenuamente, como é a principal característica do poema, acreditar que podem explicar o universo. São devaneios, sonhos tênues que podem tornar-se tudo, que podem existir.
Alguns são daqueles poetas hipertrofiados que, obcecados, criam coisas que são muito específicas. Mas existem os poetas que, de tão simples, não necessitam de quase nada. As religiões são sistemas poéticos de explicações. Só que, de tão elaborados, se tornaram extremamente complexos e complicados. São os poemas dos séculos sobre séculos. Quando vamos a um lugar fantasioso de determinada religião, queremos encontrar a poesia que foi elaborada ao longo de muitos anos em um mesmo ritmo. Tudo o que as idéias falam existe de uma forma abstrata que só a poesia pode literalizar em suas metáforas, em seus arquétipos. Nada é tão útil como queremos acreditar, mas tudo é uma maneira poetizada de realizar nossa imaginação.
O computador não é útil, ele é apenas uma forma de poesia, uma coisa para explicar o mundo e a nós mesmos enquanto vivemos. Não se pode explicar nada sem imagens poéticas, por isso inventamos tantas coisas líricas. Somos buscadores de explicações, e o resultado de nosso trabalho é sempre uma arrumação poética que se materializa de alguma maneira. Sem essas nossas “poetizações”, teríamos um total silêncio. É possível encontrar poesia até numa tragédia. Tornemo-la sublime. Isso não é um mal, mas nossa essência, nossa qualidade humana.
Somos poetizantes. Até aquilo que os críticos mais pedantes julgam ridículo é carregado de poesia. Quem pode julgar o efeito que alguma coisa causa em outra pessoa? Quem pode desqualificar uma situação poética somente por uma avaliação de estilo? A poesia é aquilo que nos toca, nos afeta para explicar aquilo que amamos ou odiamos. A poesia não é feita somente para os que se julgam bons. Ela pode afetar até os mais horripilantes malfeitores. Ela é indomável. Não está a serviço de ninguém. Pois é como a própria vida. Não tem garantia. É o que no mundo humano mais se aproxima do arquétipo do uno divino, está aí para todos sem nenhuma restrição.Nada pode garantir que uma beleza natural não se torne destruidora de um momento para outro. O ser humano não seria diferente daquilo que é parte. O momento da poesia é o presente. O presente é só um dia. O que aconteceu antes de acordarmos está morto e o que acontecerá depois de dormirmos é completamente imprevisível. Só se vive no presente. Só se vive durante um dia. A poesia é passar por este período e explicá-lo da melhor maneira possível. As marcas do poema da vida se perdem nas ilusões do futuro e as dúvidas das imagens somem no medo do passado. Por isso o poema é eternamente recriado por nós a cada dia. Lutamos para negar opressão da ilusão e do medo. O poema é o resultado de uma transgressão que heroicamente realizamos diante de nossa condição humana. A poesia nos fascina, e esse fascínio é sua própria essência. Ela é o exercício de viver e amar esse presente que não podemos prender porque passa a cada segundo. O poema é o registro dessa aceleração do viver que se perde sempre, dessa morte vivente que nos cerca. Não nos iludamos em pensar que descobrimos nos resultados desse impulso poético as respostas, porque não somos seres de respostas.
Somos seres de explicações eternas. Somos criadores de fluxos de explicações. Quando nos prendemos a uma explicação específica corremos o risco de perder a capacidade de criar a poética de nossa vida. E é essa mesma capacidade que procria as explicações a que nos apegamos. Mas esse apego é justamente aquilo que não é o objetivo espiritual dos poemas. Eles são somente um comunicado, uma mensagem, um álibi. Eles são uma pista do desconhecido, um vestígio para nos mantermos no caminho deste desconhecido. Porque a imensidão da vida é incompreensível simplesmente, mas o amor por ela exige explicações que nos garantam um pequeno eco que orienta um caminho delirante. As explicações na forma dos poemas humanos são esses ecos que, embora nada sejam da imensidão, nos fazem seguir num rumo de ineditismo. Por isso exigimos que o poema deva ser inédito, para se equivaler ao desconhecido. Somente o desconhecido é vivo. Quando conhecemos algo é porque já está morto. Somente o poema simula isso de uma maneira interessante para o ser humano. Quando o poema é equânime ao desconhecido, revelando não a impossível visão da sua face, mas nosso espanto em relação a ela, podemos estar felizes de que seguimos naquela pista misteriosa da eternidade insuperável. Tudo aquilo que criamos é apenas uma explicação deste impacto. Tudo o que criamos é poesia como delírio e revelação. E este é nosso único caminho para aquilo que somos realmente, mas que nunca nos será revelado totalmente. Abram bem todos os sentidos que julguem existir e busquem apenas o impulso poético de explicar isso por si mesmos. Lembrem-se de mim na próxima sessão de cinema e depois escrevam seus próprios poemas.
Contato: fcatani@uol.com.br

sexta-feira, 4 de maio de 2007

PEGAR E LARGAR

Pra pegar o infinito
Basta abrir a mão

Pra abraçar o mundo
Tem que estar no chão


Tudo passa
Mesmo que não possa


Ou quem tudo possa
tente evitar

quarta-feira, 2 de maio de 2007

FASES

Não passei por fase nenhuma


Entrei em todas elas

Sem ter saído das demais

Mergulhado em todas

Posso revisitá-las

A qualquer instante

segunda-feira, 30 de abril de 2007

PARECE

Mórbida é palavra lúgubre
Como sórdida é cínica
E hipótese pontiaguda

Esplêndida é desvairada
Jocosa visguenta
E corrobora nojenta

Inspiração: nebulosa
Esperança vaga
Tarde: cachaça de rolha e mão na mão

Arara vice-versa
Chacoalha que chacoalha
Oxítona é proparoxítona

sexta-feira, 27 de abril de 2007


ACORDE VERSO

Acorde verso,
Acorde verso,
Acode!

Diversos acordes
Para lá da palavra
Do sonho do som,

Imersos no imenso mar
Do universo,
Acordem o verso!


A cor do verso,
Acorde,
Que embale as balas
Em cores diversas
Nos aniversários
Do desarmamento.

Acorde verso,
Amor do verso,
Oh, morte!
Sem adversários,
Sem cordas inversas.
E faça as facas ficarem
No pensamento.

À morte, o avesso.
O amo-te em verso,
Oh, vida!
O mote a oração,
Mensagens ao coração,
No homem atadas
Em cada momento.